Fonte: Blogando com os espiritos - Por: Agnaldo Cardoso
Como e por que você ingressou na Doutrina Espírita?
BRUNO TAVARES: Nasci em família católica, estudei em colégio católico (Colégio Virgem Poderosa) e depois protestante (Colégio Agnes), mas minha mãe era uma dessas autênticas “espiritólicas” e tendo uma amiga trabalhadora do C. E. Moacir, em Casa Amarela, sempre me levava para tomar passes, isto desde os 5 anos de idade e também me levava à Federação Espírita Pernambucana.
O inusitado e engraçado da história é que muito pouco íamos à missa. Mas por volta dos meus 17 anos foi que me tornei trabalhador espírita efetivo quando cheguei à Casa dos Humildes, a minha casa raiz, de onde jamais me afastei.
O que lhe mais lhe impressionou/apaixonou na Doutrina Espírita?
Bem, sou filho de jornalista, neto de jornalista, sobrinho de escritor, toda a minha família é composta de leitores vorazes, todos lá em casa liam muito, algo que permanece até os dias de hoje em todo o Clã dos Tavares; então o que mais me apaixonou na Doutrina Espírita foi a tal da Fé Raciocinada voltada para a pesquisa, para a observação e tendo como necessidade absoluta o estudo e a vivência de seus postulados. O estudo verdadeiramente foi o que arrebatou-me para entregar-me, rendido, a este belíssimo ideal, o ideal espírita.
Qual a principal mensagem espírita?
Ah, indubitavelmente a da fraternidade humana, a que está insculpida com letras de ouro no nosso frontispício: “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO”, mas a caridade completa, não apenas a beneficência, mas também a benevolência, não apenas a assistência social, mas também a caridade pedagógica, nesse entendimento de que o Espiritismo é, acima de tudo, uma Doutrina de Educação. A sua mensagem de Amor é o galardão maior dessa Doutrina de Luz.
Durante seu tempo como espírita, certamente você teve alegrias e momentos menos felizes. Você poderia nos contar alguns desses momentos que lhe marcaram como espírita?
As alegrias são tantas meu amigo que só de lembrar umedeço os olhos, faço parte de um Lar das Vovozinhas e a saudade de tantas vovós como Vó Ana, Vó Teresa, Vó Maria José e outras que já partiram para o mundo espiritual e que eram xodós da nossa casa como hoje são Vó Vera, a Vó Teresa de hoje, essa querida caçulinha Vó Irene, todas elas que fazem parte do nosso Lar Geriátrico, da família Casa dos Humildes.
Momentos felizes que vivi fazendo a Campanha do Quilo com Elias Sobreira e participando dos nossos trabalhos ao lado de grandes baluartes como Luiz Honorato, nosso eterno presidente e tantos irmãos queridos que já partiram para a aduana da vida e que do mundo espiritual nos dão forças para continuar a tarefa e a jornada.
Momentos felizes também, foram o primeiro passe, a primeira palestra, assistir ao desenvolvimento e ao crescimento da nossa querida Casa dos Humildes.
Agora, coisa ruim a gente não fala, mas se você insistir em um momento triste para mim, vou ficar apenas neste, é que observo com muito descontentamento esse booom de palestras ou palestrões que dão o nome de seminários e dos quais é cobrada a entrada por 20 reais, 30 reais, até 50 reais, não estou falando dos grandes eventos em grandes teatros, não sou maluco e sei que isso tem um custo, mas falo sim dessa febre por eventos pagos em nosso movimento, em nossas casas espíritas, onde muitas vezes os “filhos do calvário” na expressão emotiva do Anjo Abgail ao Apóstolo dos Gentios, não podem entrar e ficam de fora. Fico muito triste quando vejo a aceitação geral desse modus operandi, sem uma palavra sequer que se levante quanto a este, para mim, grande equívoco de lesa-doutrina.
Para você, o que é Espiritismo?
Bom, aqui, me perdoe, me colocarei “Ipsis Litteris” com a formidável e inigualável definição kardequiana: O Espiritismo é a ciência que trata da origem, natureza e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo corporal.
O Espiritismo é uma Religião?
Muitas vezes isso é uma questão de semântica, nas discussões menos aprofundadas. Eu, como fiel discípulo e admirador do Prof. Herculano Pires, aquele que no dizer de Emmanuel foi “O metro que melhor mediu Kardec”, prefiro dizer que é uma ciência e uma filosofia com consequências morais, já que o termo religião, usualmente, é dado àquilo que tem rituais, liturgias, paramentos, etc., o que absolutamente não temos.
Mas é claro que aceito o termo Religião na explicação Emmanuelina, do Religare, religação da criatura com O Criador. Mas em nosso movimento, às vezes tão pobre de ideias, por parte de certos confrades, se discute mais palavras do que ideias, a forma do que o fundo.
Allan Kardec recomendava a atualização periódica dos ensinamentos espíritas, em face do avanço da ciência. Como pôr em prática tal recomendação?
A nossa Doutrina é progressiva, Kardec dizia que o Espiritismo caminha com a ciência e se a ciência provar que o Espiritismo está errado num ponto, ele se modificará nesse ponto. Então, no processo evolutivo a espiritualidade superior vem atualizando os ensinamentos através de novas revelações como aconteceu ao longo do tempo com o aparecimento das obras de André Luiz, de Manoel Philomeno de Miranda, de Joanna de Ângelis.
Agora, inaceitável, por todos os modos, são as obras anti-doutrinárias que estão a surgir por médiuns mistificadores e debochados que, com seus seguidores, estão aí a lançar o chiste e a ironia ao rosto do movimento espírita sério, menoscabando e até procurando humilhar pessoas ilibadas.
Inaceitável de igual forma são as práticas místicas como Apometrias, Cromoterapias e quejandos, que hoje infestam muitos arraiais, com os seus efeitos placebos, enganando as massas desavisadas.
Atualização sim, responsável e metódica, como vem sendo feita pelo mundo espiritual responsável, agora, modismos jamais, nessa colcha de retalhos que pretendem transformar o nosso movimento em algo parecido com uma feira esotérica, isto não é Espiritismo nem atualização coisa nenhuma.
O fanatismo religioso atinge seriamente quase todas as religiões e, infelizmente, parece que não é diferente no meio espírita. Qual é a sua mensagem àqueles que incorrem nesse erro?
Este é o polo oposto do que tratamos acima, são os fundamentalistas espíritas, os que não admitem um diálogo inter-religioso, que querem o Espiritismo distante da juventude, da tecnologia moderna, dos avanços da ciência… Seria, esse processo de fanatismo um “Talibanato Espírita” com um Kardec ao pé da letra, quando na verdade sabemos que a letra mata e o espírito vivifica. Para mim fanatismo em Espiritismo é algo ultramontano e totalmente dissociado da fé raciocinada a qual dizemos possuir.
Você acha que a expansão do Espiritismo pelo mundo, deveria ser mais rápida? Você acha que os espíritas deveriam ser menos acomodados? Se assim for, como agilizar esta expansão?
Veja bem, Kardec a seu tempo usou a tribuna, o livro, a revista, as viagens, todos os meios disponíveis à sua época, não tenho dúvida alguma que, se hoje ele estivesse entre nós, usaria absolutamente todos os meios novamente acrescidos pelo mundo virtual, que faculta a divulgação em rede, atingindo milhões de pessoas com a proposta espírita.
Muito vem sendo feito por nobres irmãos no campo da divulgação, precisamos reconhecer isto, mas também sabermos que muito há o que se fazer ainda, agilizando a nossa divulgação. Penso que o movimento espírita, já passou da hora, precisa mobilizar-se por um canal de televisão, enquanto os nossos irmãos reformistas são vorazes e abocanham esse quinhão, o nosso movimento vai a passos de tartaruga, sem sair do lugar, por uma iniciativa como esta que permanece “sine die” para a sua consecução.
Há comodismos na divulgação, sim e demais, principalmente dentro das casas espíritas, a maioria delas sem ter ao menos um jornal informativo de suas atividades, mas já estamos a ver a chegada de jovens valorosos, com o ideal quente e carregado de convicção, tão cedo ainda em suas idades, mas dando mostras para o que vieram, como sendo os arautos de um novo tempo que nos levará de roldão para uma nova e abençoada realidade em todos os nossos meios de produção da divulgação espírita.
Por último, o que gostaria de dizer a todos aqueles que procuram pela primeira vez a Doutrina Espírita?
Minha palavra, a todos, mas principalmente a essa multidão de jovens que chegam esperançosos ao nosso rincão espírita: Recebam no primeiro momento as benesses do atendimento fraterno, do socorro espiritual, da mensagem amiga, mas depois juntem a filosofia ao cabo da enxada, trabalhem com amor e destemor por um dos mais caros ideais presentes na Terra na atualidade, agora, jamais perguntem o que o Espiritismo pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo Espiritismo, o resto será consequência.