Fonte: O Consolador - Por: Jorge Hessen

A casa espírita deve ser impreterivelmente um centro formador da educação moral e espiritual e ser um santuário de oração e de serviço fraterno.

Os aspirantes à prática da mediunidade necessitam ter consciência de que se deparam ante uma das mais sérias obrigações espirituais com a vida. Antes de serem fixados nas reuniões mediúnicas, os médiuns precisam cientificar-se, com segurança e discernimento, do que seja o Espiritismo. Contudo, quase sempre os candidatos à tarefa mediúnica desconhecem os princípios fundamentais deixados por Allan Kardec nas obras basilares e nas instruções complementares.

Isso equivale afirmar que não se pode falar em ensino espírita, sem partirmos dos seus pressupostos básicos, ou seja, do acervo que existe nos livros da Codificação. Kardec sistematizou o Projeto da Terceira Revelação e criou, além de muito outros, os vocábulos Espiritismo e Espírita. Em o “Projeto 1868”, o Codificador esclarece que “um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver princípios de Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios”.

Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos e capazes de espalhar as ideias espíritas, além de desenvolver grande número de médiuns. “Considero esse curso de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.” (1) A rigor, em uma Casa Espírita equilibrada, o estudo doutrinário deve ter prioridade número UM. Essa é a ÚNICA maneira de os grupos espíritas funcionarem de forma harmônica. No Brasil, um grande impulso para os bons estudos doutrinários aconteceu com o aparecimento do médium Chico Xavier, onde destacamos, em meados do século passado, os 16 livros da série "A Vida no Mundo Espiritual".

Pois é! André Luiz não deve ser apenas lido. Para um melhor aprendizado, suas obras devem ser estudadas em profundidade. Há também as contribuições preciosas de Yvonne A. Pereira, Pedro Franco Barbosa, Deolindo Amorim, Zilda Gama, Cairbar Schutel.

O Centro Espírita deve ser a universidade da alma, portanto, tanto quem ensina como quem aprende deve se compenetrar de suas responsabilidades perante si mesmo e perante os outros. Adverte o Espírito de Verdade: “Espíritas: amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”.(2) Obviamente a obrigatoriedade pelo estudo deve ser relativizado, pois muitos confrades não sabem ler e nem escrever. A relação ensino-aprendizagem é de grande utilidade, tanto para o instrutor como para o aprendiz. Contudo, não se pode transformar o ensino-aprendizagem doutrinário em um acúmulo de informações e raciocínios, sem qualquer vínculo com as necessidades prementes do Espírito imortal.

Aprender Espiritismo requer atenção contínua, observação profunda e, sobretudo, como todas as ciências humanas, a continuidade e a perseverança. São necessários muitos anos para a formação de um médico medíocre e algumas reencarnações para edificação de um sábio, por isso Kardec lembra que “muitos querem obter, em algumas horas, a Ciência do infinito! Que ninguém, portanto, se iluda: O estudo do Espiritismo é imenso; liga-se a todas as questões metafísicas e de ordem social; é todo um mundo que se abre diante de nós. Será de espantar que exija tempo, e muito tempo, para a sua realização?” (3)

Há aqueles que priorizam, unicamente, o serviço de assistência social a fim de se elevar na categoria de espírita completo e excelente médium. Entretanto, reflitamos com o Convertido de Damasco na obra Paulo e Estêvão: “É justo não esquecer os grandes serviços da igreja de Jerusalém aos pobres e aos necessitados, e creio mesmo que a assistência piedosa dos seus trabalhos tem sido, muitas vezes, sua tábua de salvação. Existem, porém, outros setores de atividade, outros horizontes essenciais. Poderemos atender a muitos pobres, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes; mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados, na Terra. Na tarefa cristã, semelhante esforço não poderá ser esquecido, mas a iluminação do Espírito deve estar em primeiro lugar.

Se o homem trouxesse o Cristo no íntimo, o quadro das necessidades seria completamente modificado”.(4) Estamos diante do confronto entre a fome física e a ignorância espiritual – dois dos grandes flagelos da Humanidade. Qualquer pessoa de forma autômata pode socorrer a fome material. Mas raras criaturas conseguem socorrer a ignorância do Espírito. Para sanar a fome do corpo físico, basta ofertar o pão. Para suprimir a ignorância do Espírito é indispensável fazer luz.

Referências bibliográficas:
[1] Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, p. 342.
[2] Kardec, Allan. “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. VI – O Cristo Consolador, Espírito de Verdade.
[3] Kardec, Allan. “O Livro dos Espíritos”, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2002, Introdução, cap. XIII – As divergências de linguagem.
[4] Xavier, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1978, pág. 326.