Por: Richard Simonetti

Contou-me um confrade que certa feita regressava ao lar, por volta de meia-noite, após uma festa.

Estava sozinho em seu automóvel. Numa curva, perdeu a direção do veículo, que se precipitou numa ribanceira. Desceu sacolejando e tombou dez metros abaixo.

A custo saiu do carro, rodas para cima. Repleto de escoriações, começou a subir, retornando à estrada. Já no alto olhou para o automóvel. Ficou estarrecido. Estava destruído. Impossível sair com vida dali.

Espírita estudioso, apavorou-se. Certamente morrera! Pensou em descer para confirmar o trágico acontecimento com a visão de seu corpo sem vida, entre as ferragens. Faltou-lhe coragem.

Talvez fosse apenas uma impressão. Afinal estava todo machucado, sangrando. Segundo aprendera, só quem se mata fere assim o perispírito.

Resolveu pedir socorro, acenando para os carros que passavam. Ninguém parava. Era como se ele não existisse.

Voltou a dúvida. Se ninguém o via… certamente estava morto! Lembrou-se da recomendação que ouvira tantas vezes. Em situação dessa natureza, ore com fervor. O socorro virá. Começou a orar em voz alta, implorando a complacência divina. Em breves momentos, ouviu uma voz.

– Então, meu irmão, precisando de ajuda?

Abriu os olhos. A oração fora atendida por um irmão da espiritualidade, um rapaz negro, expressão sorridente, vestido de branco.

– Ah! Graças a Deus você veio!

– O que aconteceu, meu irmão?

– Acabo de morrer num acidente de trânsito!

O interlocutor soltou um grito e fugiu, com a velocidade dos apavorados... Então, conversara com um vivo! Aliviado, continuou a acenar para os carros, até que um bom samaritano das estradas se dispôs a socorrê-lo.

 

***

O episódio pitoresco oferece-nos ensejo para algumas observações importantes, relacionadas com a morte.

Por exemplo, o fato de o Espírito desencarnado num acidente ter consciência do que está acontecendo. É perfeitamente possível, considerando que nossa situação diante da morte depende do tipo de vida que levamos.

Eu diria que a regra é a seguinte: quanto mais envolvido o Espírito com a vida material, mais complicado o retorno.

Pessoas que cultivam valores espirituais, que cumprem as orientações evangélicas, que não se apegam, situam-se melhor, independente do tipo de morte. Podem desencarnar repentinamente, de forma trágica, e logo tomarem consciência de sua situação.

E há os que desencarnam numa doença de longo curso e ficam mal no mundo espiritual, em face de uma existência orientada para interesses materiais, vícios e paixões.

Há que se considerar também a questão cultural. A experiência demonstra que o espírita tem muito mais facilidade para perceber a condição de desencarnado do que adeptos de outras religiões, que se imbuem de fantasias sobre a vida espiritual.

Mas essa vantagem inicial pode converter-se numa desvantagem se não levar a sério o empenho de renovação e de vivência evangélica propostos pela Doutrina.

 

***

Destaque especial para o rapaz que fugiu apavorado ao imaginar-se em contato com um Espírito.

A tendência de tomar por assombração o Espírito do morto está profundamente arraigada na mente humana.

– Gosto muito de meu pai que faleceu, mas jamais quero vê-lo!

– É seu pai!

– Não! É assombração!

Lamentável! Ante à inibição promovida pelo medo, experiências gratificantes com familiares desencarnados deixam de acontecer.

E mais: médiuns que poderiam realizar excelente trabalho recusam-se ao intercâmbio, simplesmente porque têm pavor do transe mediúnico, que os colocaria em contato com os mortos.

Um assombro!


A vida de Chico Xavier

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