Por: Eurípedes Kuhl

A criogenia permitirá o ressuscitamento de alguém que tenha morrido e cujo corpo tenha sido mantido congelado?

- Primeiro, vejamos o que é criogenia.

Segundo mestre Aurélio : "Ciência da produção e manutenção de temperaturas muito baixas em sistemas, e do estudo das propriedades físico-químicas destes sistemas naquelas temperaturas".

Já pela "Grande Enciclopédia Larousse Cultural" temos que a criogenia: "É a parte da eletrônica que utiliza as criotemperaturas (temperaturas baixíssimas) e particularmente os supercondutores, com largo emprego em telecomunicações".

Alongando um pouco a resposta, temos que "criogenização" é o ato de abaixar a temperatura de um organismo vivo a -190°C e de mantê-lo nessas condições com o propósito de conservá-lo. Isso já vem sendo largamente feito, com células e embriões. Mas entre um caso e outro, há uma diferença fundamental: o material mantido criogenizado em laboratório apresenta a condição de estar "ativo" no momento da criogenização, isto é, não danificado, em perfeitas condições naturais. No cadáver estas condições inexistem, pois a morte desencadeia total e irreversível cessação do metabolismo.

Há casos de criogenização no Brasil?
- Sim, em várias clínicas médicas de reprodução assistida.
E também, em nosso país já está regulamentada, desde o ano 2000, mas não atuante ainda, a rede nacional de bancos de sangue de cordão umbilical e placentálio, sendo cinco públicos e um privado.

A proposta da rede é fazer o cruzamento de informações, pois atualmente no Brasil estão cerca de 1.500 pessoas portadoras de leucemia - doença que, só em 2002, matou 4.460 crianças e adultos, seguido o INCA (Instituto Nacional de Câncer) - e de outras doenças genéticas e auto-imunes que necessitam de um transplante de medula óssea e não têm doadores compatíveis.

O INCA tem capacidade para armazenar 4 mil amostras de sangue e lá já estão cerca de 200 amostras de células de cordão umbilical congeladas, todas doadas por mulheres que deram à luz em maternidade municipal do Rio de Janeiro. Um seleto grupo de casais está pagando para depositar o cordão umbilical de seus filhos recém-nascidos em um banco especializado (empresa, do Rio de Janeiro, associada à Universidade Federal daquela cidade). Esse banco funciona como uma espécie de fundo de garantia contra doenças no futuro: o cordão umbilical e a placenta são ricos em células-tronco, fundamentais no transplante de medula óssea e no tratamento de leucemia, doenças genéticas imunológicas, hematológicas, entre outras. Há cerca de dois anos a taxa de adesão deste banco era de R$ 1850,00, mais anualidade de R$ 240,00.

Qual a destinação da criogenia de cordões umbilicais?
- O cordão umbilical é rico em células-tronco de fácil obtenção.
Dessa forma, passa a ter um destino muito mais nobre do que aquele de até então (o lixo ... ). Nos bancos de sangue que já citamos a proposta é o armazenamento (por criogenização) de células-tronco do próprio indivíduo (abundantes no cordão umbilical), para utilização futura, se quando esse bebê se tornar adulto eventualmente vier a necessitar de reposição de algum órgão. Nesse caso, suas próprias células-tronco, devidamente manipuladas, poderão se converter em auto transplante , com grau zero de rejeição, dispensando quaisquer tipos de doadores. O sistema é caríssimo! Mas a possibilidade é estupenda:

Qual a visão espírita quanto ao congelamento do corpo de alguém que já morreu doente, mas alimenta a expectativa de um retorno de vida física nesse mesmo corpo?
- Para nós, espíritas, é penoso imaginar que uma pessoa, em vida, desconhecendo totalmente a existência do Plano Espiritual, e principalmente dos mecanismos divinos da vida, consubstanciados nas vidas sucessivas (reencarnação), tenha a preocupação de cuidar do "ressuscitamento" de seu corpo, após a morte (quase sempre causada por doença incurável), mantendo-o congelado, com a expectativa de que num futuro próximo ou distante venha a obter cura pela Medicina e volte a viver... É uma tristeza pensar que nesse tremendo despautério mergulham várias pessoas, partindo daquela que alimenta essa quimera e envolve aqueles que ficarão cuidando dos despojos.

Emmanuel, preclaro Instrutor espiritual, através do nosso Chico Xavier, no livro "Lições de Sabedoria", p. 45, comenta: "O congelamento do corpo ocupado pelo espírito, em processo de desencarnação, pode retê-lo, por algum tempo, junto à forma física, ocasionando para ele dificuldades e perturbações. Isso, de algum modo, já sucedia no Egito Ancião, quando o embalsamamento nos retinha, por tempo indeterminado, ao pé das formas que teimávamos em conservar. Semelhante retenção, porém, só se verifica na pauta da lei de causa e efeito. E, quanto ao congelamento, se algum dos interessados ' por força da provação deles mesmos retomarem o corpo frio a fim de reaquecê-lo, a Ciência não pode assegurar-lhes um equipamento orgânico claramente ideal como seria de desejar, especialmente no tocante ao cérebro que o congelamento indeterminado deixará em condições por agora imprevisíveis". De nossa parte, penitenciando-nos pela má memória, citamos que num dos livros do Espírito Luiz Sérgio, pela psicografia de Irene Pacheco Machado, lemos o plausível comentário sobre um Espírito que, estando com sofrimento nessas condições (congelamento do seu corpo físico doente, após a morte, com vistas a futura cura e respectiva ressurreição), teve que ser levado a banhos de sol, por bondosos assistentes de uma Colônia do Plano Espiritual, para "derreter o gelo" ao qual ele se sentia preso, congelado ...

Obs: Se algum bondoso leitor souber em qual livro está esse registro, solicitamos a gentileza de repassar essa informação à Editora, que nos ajudará a melhorar a citação, quanto à fonte bibliográfica. De já, somos gratos.

Do ponto de vista da Medicina, como o Espiritismo vê as experiências científicas? Essa da criogenia, por exemplo, não pode ser válida?
- Aos espíritas, não objeta a utilização racional dos avanços da Medicina: ao contrário, agradecemos a Deus por mais essa bênção, da qual nos servimos. Agora, utilizar tais avanços, como no caso da criogenia (enquanto técnica de congelamento de cadáveres), visando futura retomada da vida no mesmo corpo, expõe um grande apego materialista, a par de infeliz desconhecimento da vida espiritual. O Espírito, para uma existência terrena, em obediência a Leis Divinas, naturais, passa por uma ligação perispiritual já na fecundação e o respectivo desligamento, na morte do corpo.

Ao Espiritismo isso é cristalino, tanto quanto o fato de ser o perispírito a sede das sensações, daí advindo que tal Espírito permanecerá com a sensação do frio intenso, até que a caridade do Pai o liberte dessa verdadeira" cadeia de gelo".

Não bastassem todos esses óbices a tal finalidade da criogenização, há outro entrave intransponível: o ser humano conta com o "duplo etérico", sobre o qual, no livro "Nos Domínios da Mediunidade", cap. 11, o autor espiritual André Luiz registra: " ( ... ) o perispírito, ou "corpo astral", é revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o "duplo etérico", formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico ( ... ) destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora". Assim, não é difícil de deduzirmos que com a desintegração do duplo etérico pela morte, o retorno aos despojos torna-se impossível. Triste expectativa essa, a gerada pela criogenia, a par de arrematada ignorância.

 


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