Fonte: Espirito

Além do passe, que é o mais conhecido, a cura pode ser obtida pelos seguintes meios: pela prece, pelo receituário mediúnico, em reuniões de desobsessão, através de operações sem instrumental cirúrgico, por meio de operações com uso de instrumental cirúrgico, pelo tratamento a distância e, acrescentemos, por outros meios espirituais desconhecidos.

Afinal, apesar de seu avanço, o Espiritismo não é uma doutrina completa, a ponto de informar sobre tudo.

Basta dizer que às vezes somos surpreendidos por acontecimentos que fogem completamente aos conhecimentos que possuímos, doutrinariamente. De qualquer maneira, é o Espiritismo que nos dá as melhores e mais firmes indicações sobre o mecanismo das curas e os meios de obtê-las. Dá-nos ele, inclusive, a possibilidade de interpretar inúmeros casos em que as curas acontecem, fora do ambiente doutrinário e sob condições bastante interessantes. O próprio estudo dos processos de cura oferece-nos material para interpretar e compreender outros casos. É o que relembraremos rapidamente a seguir.

A prece
A prece é um dos meios pelos quais a cura de um mal pode ser alcançada. Mas é, também, um meio dos mais difíceis, haja vista a pequena capacidade que grande parte dos seres humanos tem para orar. Isto porque a oração não é um ato mecânico, que se realiza pelos lábios. Não. A prece é algo que depende enormemente do pensamento e da vontade, pois sem estes ela se transforma em algo sem maior expressão. Quando os homens aprendem verdadeiramente a orar, indubitavelmente conseguem sucesso em muitas coisas, inclusive na solução de seus problemas de saúde.

A confirmação de que se pode obter cura através da prece pode advir do conhecimento (que vimos atrás) da ação do pensamento sobre os fluidos, que nos esclarece como a coisa acontece. Mas pode advir também da informação do “Livro dos Espíritos”: - “Podemos obter curas só pela prece?” indaga Kardec, ao que os espíritos respondem: “Sim, às vezes Deus nos permite; mas talvez o bem do doente seja o de sofrer ainda e então vocês pensam que a prece não foi ouvida”.

Esta resposta enseja, além da confirmação do poder da prece na cura, uma reflexão sobre o fato de nem todo doente poder ser curado. Isto está explícito na resposta dos espíritos, que afirmam ser a doença, muitas vezes, “o bem do doente”. Todos sabemos que isto acontece em vários níveis, ou seja, sempre que o doente é possuidor de compromissos denominados cármicos, que devem se prolongar para além do momento em que está recebendo o tratamento, a cura deixa de acontecer. Um indivíduo de grande força de vontade e orando com sinceridade, pode ainda assim não alcançar o que deseja se isto for o melhor para ele.

Aliás, André Luiz nos mostra um exemplo que ilustra bem esse fato: havendo desencarnado, a mãe de um jovem prossegue no mundo espiritual sofrendo com a doença do seu filho encarnado, preso ao leito. De tanto implorar aos espíritos mais esclarecidos o alívio das dores do seu filho, ela recebe a informação de que será atendida. Tão logo os espíritos realizam a cura, o jovem retoma uma vida perdulária, acabando por voltar ao vício do alcoolismo, que havia motivado a sua doença. Com isto, também retorna a doença e o jovem volta ao leito. A mãe, embora com muito sofrimento, acaba por compreender que a dor é “o bem do doente”.

Como a questão da cura total é extremamente complexa, uma vez que os resultados variam de caso para caso, é bom estar prevenido. Pode o indivíduo não estar em condições de obter a cura total, seja porque o seu estado físico está comprometido irremediavelmente, seja porque o seu processo cármico o recomenda. Mas, entre a cura total e a cura parcial muita coisa pode ocorrer, ou seja, há pessoas que, depois determinado tratamento, alcançam resultados parciais, que diminuem em parte o seu sofrimento, sem extingui-lo definitivamente. Quando isto acontece, de duas uma: ou a pessoa compreende e assume sua situação, ou ela não aceita o pequeno resultado, e continua descrente de tudo.

Isto pode ocorrer com dirigentes mal preparados. Estes poderão entrar em um processo de descrença ante a doutrina pelo simples fato de não conseguir resultados positivos para todos aqueles que os procuram. A maneira de enfrentar essa situação, que será inevitável nas casas espíritas dedicadas à prática da cura espiritual, é fortalecer o conhecimento, a fim de compreender que na maioria das vezes a cura total ou parcial não depende exclusivamente dele, mas de um conjunto de fatores nos quais entram o pensamento, os fluidos, os intermediários, os espíritos e o próprio paciente.

Retornemos à prece. Apesar do estágio em que nos encontramos atualmente, somos ainda muito deficientes na hora de realizarmos uma oração. Esta deficiência é que nos impede de obter bons resultados em nossos propósitos. A prece deveria se constituir em matéria de constante estudo nos centros espíritas, mas estudo verdadeiro e não se tornar objeto de considerações puramente místicas, que impedem alcançar a sua essência.

Receituário mediúnico
A mediunidade receitista foi tratada por Kardec de maneira objetiva. Diz ele em “O Livro dos Médiuns” que a especialidade dos médiuns receitistas “é a de servir mais facilmente de intérpretes aos espíritos para prescrições médicas. Não devemos confundi-los com os médiuns curadores, porque eles não fazem absolutamente mais do que transmitir o pensamento do espírito e não têm, por si próprios, nenhuma influência”.

Com a popularização do Espiritismo, este tipo de mediunidade foi tomada de muitas preocupações, criando-se em torno dos médiuns receitistas uma aura de medo. Espalhou-se a preocupação de que as receitas espirituais pudessem, pelo menos no Brasil, contrariar as leis e trazer para a Doutrina alguns prejuízos. Surgiu então a orientação de que as receitas dadas por médiuns deveriam passar pelo crivo dos médicos, passando estes a responsabilizarem-se por elas.

Se, em algum momento, esta preocupação teve sua razão de ser, a verdade é que a presença do médico ao lado do médium receitista passou a ser encarada em muitos centros espíritas como uma necessidade inadiável, a ponto de inibir o trabalho mediúnico.

Ainda hoje, certas instituições de peso no movimento espírita divulgam a necessidade da presença desse médico de plantão e se não fosse o bom senso de muitos deles, nós não veríamos chegar às mãos dos pacientes as receitas. Simplesmente porque muitas delas, como um dia avisou Herculano Pires, contrariam as orientações dos médicos encarnados. Isso sem falar dos centros espíritas que, tomados de verdadeiro pânico, deixaram de abrigar em seu recinto o médium receitista, chegando alguns a proibir a sua presença. Era preciso não contrariar as orientações vindas de cima.

O que serviu para um certo momento já não tem mais valor hoje. Ao invés de divulgar esse tipo de orientação absurda, precisamos na verdade é valorizar o trabalho dos médiuns receitistas, dando-lhes apoio, sem perder de vista, é claro, o controle que todo e qualquer tipo de mediunidade deve ter, para não se transformar em arma contra a Doutrina e os homens.

A mediunidade receitista é, no processo de cura, muito importante e às vezes complementar do tratamento espiritual. Os espíritos que atuam neste setor, normalmente ex-médicos encarnados, se utilizam de conhecimentos adquiridos em vidas passadas e aprimorados na Espiritualidade. Suas receitas chocam muitas vezes os profissionais da medicina, uma vez que a combinação de remédios nem sempre segue o comportamento tradicional. Há espíritos que combinam diversos tipos de remédios, misturando alopatia e homeopatia, enquanto outros seguem uma dessas linhas apenas.

Os resultados do receituário mediúnico via de regra, seguem o mesmo padrão dos demais tipos de tratamento espiritual, ou seja, a cura total, parcial ou nenhum resultado efetivo ficam na dependência do encarnado e dos seus compromissos cármicos. Como os médiuns receitistas, segundo Kardec, não exercem nenhuma influência no receituário, é de se crer que a ação de seu pensamento não tenha influência no resultado da cura, ao contrário do passe onde a influência é quase total. De qualquer maneira, os médiuns estão sempre submetidos aos interesses dos espíritos, isto é, são os espíritos que determinam o que receitar.

Operações espirituais
A cura através do que se convencionou chamar operações espirituais parece ser recente, especialmente aquelas em que os médiuns utilizam instrumental cirúrgico. Não há registros de fatos dessa natureza do século passado. Allan Kardec não as menciona, embora, na Revista Espírita ele se refira à mediunidade nos médicos, chegando inclusive a apontá-la como de grande interesse para o futuro.

As operações espirituais, que se popularizaram entre nós com o aparecimento do “médium da faca enferrujada”, José Arigó, formam objeto de muita discussão no movimento espírita, havendo aqueles que não as aceitam e outros que chegam até a combatê-las. Ao tempo de Arigó, as discussões se tornaram intensas, a ponto daquela mediunidade escandalizar conhecidos trabalhadores do movimento espírita, que temeram pelo futuro. Após sua morte, o clima serenou, voltando a ficar tenso com o aparecimento do agora médico Edson Queiroz (que desencarnou no dia 5 de outubro de 1991, assassinado).

Eis aí uma mediunidade que poderíamos chamar de “risco”, uma vez que exige muita determinação por parte do médium e coragem do paciente em se submeter à cirurgia. O “risco” é menor quando a operação é realizada sem instrumentos cirúrgicos, como acontece com determinados médiuns, que se utilizam apenas das mãos. Mas quando os espíritos solicitam o bisturi, a situação se modifica e deixa muitas pessoas desnorteadas, já que a maioria absoluta das cirurgias neste caso é feita em condições precárias sob o ponto de vista médico, normalmente sem o uso de anestesia e assepsia, com a agravante do espírito operador fazer uso de recursos como sujar propositadamente o local da incisão, chegando até a mandar cuspir nos cortes.

É aí talvez que o escândalo aumenta. Muitos médicos e alguns deles bons espíritas não conseguem ver sentido nesse ato, acabando por se opor a esse tipo de tratamento. Com Arigó o escândalo chegou até ao receituário mediúnico que ele às vezes fornecia aos pacientes, contendo todas as evidências de uma verdadeira contradição. No entanto, até o presente momento, não há registro de pacientes que tenham se utilizado aquelas receitas e tido sua condição agravada. Pelo contrário, centenas de casos estudados demonstraram, quando pouco, uma acentuada melhoria do estado geral do paciente.

A mediunidade, de modo geral, traz em si mesma o perigo da má aplicação. A cura através das operações espirituais se presta muito ao charlatanismo e ao enriquecimento ilícito. Mas esse tipo de coisa existe na sociedade como um todo, de modo que não podemos condenar o processo apenas por existirem pessoas de comportamento condenável. Isto é uma outra questão.

Tivemos a felicidade de acompanhar de perto os dois tipos de mediunidade de cura: através do uso de instrumental e sem o uso dele. Conhecemos alguns médiuns que se utilizam apenas das mãos para realizar a intervenção e cujos resultados demonstraram um grande número de acertos. O curioso de um destes médiuns é que, após a cirurgia, que se dava sem nenhum tipo de corte, o local da incisão era protegido por gases e esparadrapos como se o corte tivesse sido feito. Exames posteriores, através do raio X, apontavam no local da incisão um corte interno, próprio de uma cirurgia. O paciente, após o ato operatório, era aconselhado a seguir um procedimento típico de uma cirurgia pelos processos conhecidos.

Em casos dessa natureza, em que o paciente não apresenta nenhum sinal exterior, a intervenção dos espíritos é a única maneira de explicar a cirurgia. De qualquer modo, a participação do médium aparece como importante; caso contrário, a cirurgia teria sido feita de maneira diferente. Se concluirmos que o médium tem uma participação importante em casos como esse, deveremos concluir que também o seu comportamento mental tem implicações positivas no caso – talvez possamos dizer mais, que os fluidos manipulados pelos espíritos operadores contem com a participação do médium. É importante estudar o caso, porque quase nunca nos lembramos da participação do intermediário, que é o médium.

As cirurgias feitas através de instrumental cirúrgico ficaram populares entre nós, após Arigó, e mais recentemente por Edson Queiroz. Em nosso livreto Médicos-médiuns tivemos ocasião de analisar o fato. Edson seria a repetição em gênero e grau de Arigó, não fossem duas únicas questões: Edson é médico e vem de berço espírita. Ademais, no presente instante estamos como que impossibilitados de analisar o seu como sendo um caso da atualidade espírita, uma vez que ele se enquadra em pelo menos duas classificações dadas por Kardec em O Livro dos Médiuns: “Médiuns mercenários – os que exploram a sua faculdade”. “Médiuns ambiciosos – os que, sem porem preços em sua faculdade, esperam tirar alguma vantagem dela”.

Porém, ao tempo em que ele merecia do movimento espírita o apoio e a atenção, sua faculdade foi comprovadamente verdadeira. Acompanhamo-lo em diversas atividades, tanto em São Paulo, como em Recife, em Montevidéu e Salvador, enfim, um sem número de vezes em que nos foi possível observar o fenômeno sob vários aspectos: o do uso de bisturi e demais instrumentos, o uso constante de agulhas, a ausência completa de anestesia e assepsia, os variados tipos de operações, que iam desde a retirada de um simples pterígio até uma incisão mais profunda no seio, para a retirada de um caroço qualquer.

Os inúmeros casos acompanhados por Nazareno Tourinho – no primeiro e melhor livro que se escreveu sobre Edson – constantes ainda da primeira fase de sua mediunidade, onde nenhuma denúncia de pagamento monetário havia sido feita, mostra a magnitude do fenômeno e sua utilidade. Estamos convictos de que a principal finalidade da mediunidade de cirurgia é mesmo a de chocar as criaturas humanas, o que esta mediunidade faz muito bem ao não utilizar de modo visível a anestesia e assepsia – fato este que jamais resultou em danos para os pacientes – além da maneira como os Espíritos operadores agem, com palavras e atitudes que realmente escandalizam as pessoas mais sensíveis.

Enquanto vai chocando as pessoas, vai também realizando uma ação curativa para muita gente, que se vê assim beneficiada pelos médiuns operadores.

Tratamento a distãncia
Este processo de cura, embora bastante conhecido, mas ainda pouco explorado, consiste em reunir, em data, horário e local previamente estabelecidos, de maneira disciplinada e permanente, um certo número de pessoas de boa vontade, para, em recolhimento e prece, destinarem energias (fluidos) para as pessoas necessitadas. Em vista do que falamos no início sobre o poder do pensamento e sua ação sobre os fluidos, ficam claros para nós as possibilidade deste tipo de reunião.

É evidente que ao dirigirmos nosso pensamento de modo coletivo em direção a pessoas necessitadas, as energias que emanamos tenderão a alcançar o seu objetivo, não só estabelecendo resultados positivos sobre problemas físicos e espirituais, como também sobre questões de ordem moral. Em nosso livro Você e os Espíritos (ainda por editar), tratamos desta questão e apresentamos diversos exemplos da atuação do pensamento.

Quando o grupo dispõe de médiuns de comprovada capacidade de doação fluídica, os resultados podem ser ainda mais promissores. Atualmente, há uma tendência em certos meios espíritas, de utilizar as energias de médiuns bem dotados, carreando-as para fins terapêuticos, ao invés de fenômenos de materialização. A observação tem demonstrado que em muitos núcleos, os resultados são às vezes surpreendentes.

A desobsessão e a cura
O Espiritismo encara a obsessão em seus variados graus como uma doença cujo portador deve ser tratado convenientemente. A ação de um espírito sobre um encarnado, levando-o a cometer atos tidos como anormais por nossa sociedade, é que tem não poucas vezes enchido os nossos institutos psiquiátricos. Daí, pois, a importância de uma doutrina como a espírita, capaz de dar à doença e ao doente uma visão nova e diferente, com condições de ir ao fundo da questão e obter resultados realmente satisfatórios. E mais, uma doutrina que é capaz de avançar no diagnóstico e indicar quando a doença é causada por espíritos e quando ela, na verdade, foi criada pela própria mente da criatura enferma, oferecendo, a partir daí, o remédio capaz de levar à cura – quando menos, de aliviar os sofrimentos. A Desobsessão será tratada com mais profundidade em matérias posteriores.

Este nosso breve estudo procurou demonstrar, de modo rápido, que a atividade de cura no centro espírita, se constitui em importante trabalho, que não deve ser relegado a segundo plano nem ser tratado sob o estigma dos preconceitos. O Espiritismo é das poucas doutrinas que têm condições de desenvolver métodos e atividades de tratamento que alcançam resultados verdadeiramente importantes. Seja se utilizando da presença de médiuns, seja educando pessoas de boa vontade, seja, enfim, desenvolvendo em cada ser humano que participa de atividades espíritas a consciência de que cada um de nós é verdadeiramente um “deus” e pode agir como ativo participante da obra divina.

A maior necessidade dos espíritas atuais talvez seja conhecer, compreender e saber utilizar a Doutrina Espírita na prática. Neste sentido é que os centros espíritas deveriam dirigir suas atenções. O mundo de coisas a serem feitas pelos espíritas é grandioso, mas, com toda a certeza, estamos fazendo apenas uma pequenina parte do que nos cabe por desconhecermos as nossas próprias potencialidades. É preciso descobri-las.

 


A vida de Chico Xavier

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