POR: FERNANDO A. MOREIRA

Apesar desta analogia por suas confluências, sabiamente percebida por Kardec, são coisas diferentes, com alguns pontos discordantes.

É preciso um discernimento apurado, para distinguir uma da outra ou de coisa nenhuma, pois nem todos os pensamentos que nos chegam provém dos Espíritos, sejam bons ou maus, porque possuímos nosso livre arbítrio para pensarmos o que quisermos e serão eles que irão atraí-los, pelos nossos diversificados padrões vibratórios, embora tenhamos sempre a tendência de atribuirmos aos Espíritos, todos os nossos pensamentos, sejam inspirações ou intuições.

INSPIRAÇÃO

“É a equipe de pensamentos alheios que aceitamos ou procuramos” (2) e que caracterizam um tipo de mediunidade.

Médium inspirado: “recebe pelo pensamento, comunicações estranhas às suas idéias pré-concebidas” (3) existindo, pois, a aceitação do pensamento espontâneo sugerido pelos Espíritos; a diferença entre esta e a intuição, “(...) é que a intervenção da força oculta (na inspiração), é mais difícil de se distinguir o pensamento próprio do que lhe é sugerido”. (3)

É uma questão de nitidez na transmissão do Espírito desencarnado para o encarnado; a mediunidade é pouco evidente; “são médiuns sem o saberem.” (4)

Sobre este prisma é que podemos dizer que todos somos médiuns, pois não há quem não receba influências espirituais, boas ou más e que serão captadas de acordo com as nossas sintonias. São ideias espontâneas e muitas vezes estranhas aos nossos pensamentos, em relação às situações mais corriqueiras da vida e na maioria das vezes, desconhecemos sua origem.

“A inspiração encerra dois elementos: o pensamento e o calor fluídico destinado a aquecer o espírito do médium. (...) Quereis saber de onde vêm os dois elementos da inspiração mediúnica? A resposta é fácil; a ideia vem do mundo extraterreno, é a inspiração própria do Espírito ao calor fluídico da inspiração, nós o encontramos e tomamos de vós mesmos; é a parte quintessenciada do fluído vital em emanação; algumas vezes tomamo-la do próprio inspirado, quando este é dotado de um certo poder fluídico; o mais das vezes nós o tomamos de seu ambiente, na emanação de benevolência, de que está mais ou menos rodeado.” (5)

Assim, são importantes não só a sintonia do médium, mas também a do ambiente no qual está mergulhado.

“O pensamento é, portanto, nosso cartão de visita”, (6) nosso padrão eletro-magnético.

O Espírito transmite a ideia, mas ela sozinha não basta; é preciso que haja a recepção a esta mesma ideia; sem receptividade não há incorporação dela, para alterar, inclusive, aquelas pré-concebidas.

“O calor é para a ideia o que o perispírito é para o Espírito. (...) sem o calor, a ideia seria impotente para comover os corações.” (5)

“A inspiração é divina, mas o médium é humano” (7), decorre daí que a mesma inspiração tenha respostas diferenciadas, segundo a individualidade de cada um.

INTUIÇÃO

É a percepção clara e imediata de verdades, sendo desnecessária a intervenção do raciocínio.

“A causa primária da intuição é que o Espírito se comunique pelo pensamento.” (3)

Intuição mediúnica

Médium intuitivo: é o que recebe o pensamento e o transmite, diferentemente do médium inspirado, que recebe o pensamento sugerido e o incorpora, não havendo necessidade de o transmitir.

“ (...) para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, este pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. (...). É possível reconhecer-se o pensamento sugerido, por não ser nunca preconcebido; nasce à medida que a escrita vai sendo traçada.” (3) Tem plena consciência do que escreve embora sem exprimir seu próprio pensamento, como um datilógrafo, que recebe um trecho escrito e o digita repassando para o papel.

Outra “diferença consiste em que a mediunidade intuitiva se restringe quase sempre a questões da atualidade e pode aplicar-se ao que esteja fora das capacidades intelectuais do médium; (...) pode tratar de um assunto que lhe seja completamente estranho. A inspiração se estende por um campo mais vasto e geralmente vem em auxílio das capacidades e das preocupações do Espírito encarnado” (4), isto é, nas ocorrências do cotidiano.

Também durante os estados de emancipação da alma, como no sono, embora não lembremos ao despertar, às vezes, do sonho, ou não o façamos com nitidez, guardamos a intuição do relacionamento que tivemos com outros Espíritos, encarnados ou desencarnados, quer seja das conversações ou instruções que tenhamos recebido de Espíritos com os quais nós estivemos relacionados, assim também ocorre, uma grande parte de nossos “insights”.

Intuição anímica

“A intuição não é, pois, as mais das vezes, senão uma das formas empregadas pelos habitantes do mundo espiritual para nos transmitir seus avisos, suas instruções. Outras vezes será a revelação da consciência profunda à consciência normal. No primeiro caso pode ser considerada como inspiração.” (grifo meu) (8)

Assim, Léon Denis não deixa transparecer, uma distinção significativa entre inspiração e intuição, mas nos chama a atenção para um outro tipo desta última, fenômeno anímico, inconsciente, em que a intuição transmitida, é extraída da própria alma.

“A intuição é instrumento de prospecção de fundo anímico do educando, das camadas sedimentares de perfeições e imperfeições acumuladas nas existências anteriores.” (9)

Ela é, pois, aí, o conjunto de ensinamentos próprios adquiridos durante as múltiplas reencarnações e intermissões, “que lhe aflora a mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada.” (10)

Portanto, a memória de vivências passadas e da nossa missão, entendo-se o termo como os propósitos estabelecidos na espiritualidade, não é deletada com o processo reencarnatório, permanece bem viva no nosso inconsciente, nos influenciando e nos fustigando, continuamente, como intuições, aptidões, tendências, instintos e outras experiências reencarnatórias, constituindo-se assim, nos embates com o consciente, o “você decide” do Espírito, no uso pleno do seu livre-arbítrio.

“Os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. (...) a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso” (11)

É esta intuição que nos fortalece para resistirmos e não reincidirmos nas faltas cometidas em vivências passadas e no cumprimento de nossos compromissos reencarnatórios, auxiliando-nos nas sendas da nossa evolução espiritual.

Nunca nos foi prometido colheita sem plantio, mas foi-nos concedido o terreno próprio para sua realização; que nosso arado vincule firme a terra, embora lágrimas rolem de nossa face, e o suor nos banhe o corpo, para que possamos vencer os açoites dos ventos e o tamborilar das chuvas e assim as sementes germinem e frutifiquem, num novo porvir.

Vigiemos e saibamos colher e selecionar os pensamentos bons que nos chegam, por inspiração e intuição, oferecidos pelos Espíritos, que podem ser evocados e oremos para que possamos cumprir os nossos compromissos assumidos e dos quais conservamos a intuição, com fé, esforço e determinação.

BIBLIOGRAFIA
(1)KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 25ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990, pág. 65
(2)XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. Ditada pelo Espírito Emmanuel. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, pág. 125.
(3)KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 46ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982, pág. 214, 215 e 216.
(4)KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 25ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990, pág. 63 e 65.
(5)KARDEC, Allan. Revista Espírita, 2ª ed. DF: Ed. Edicel, 2002, 1865, pág. 144 e 145.
(6)XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. Ditada pelo Espírito Emmanuel. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, pág. 18.
(7)LIMA, Antonio. A Vida de Jesus, 4ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 1982, pág. 49.
(8)DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 4ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 1936, pág. 334 e 335.
(9)LOBO, Ney; Filosofia Espírita da Educação e suas consequências pedagógicas e administrativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993. vol. II, pg. 8
(10) GABILAN, Francisco Aranda. Intuição ou Inspiração, O Semeador, nº 760, 2000, pg 03. Mensagem transmitida por “A Era do Espírito”.
(11)KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 68ª ed.: FEB, 1987, pág. 140.

[Trabalho publicado na Rev. Internacional de Espiritismo (maio/2007)]
(*) Fernando A. Moreira é médico, expositor e articulista espírita, com vários artigos publicados em jornais, revistas e sites.

 


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