Fonte: Correio espírita - Por: Pedro Valiati

A nossa jornada espiritual é, na grande maioria dos casos, bem parecida, apesar do livre arbítrio e dos possíveis caminhos a serem escolhidos, como nos falam as questões 121 e 122 do Livro dos Espíritos, corroborada através da parábola do filho pródigo, a retratar o filho mais novo, ávido por novas venturas, nem sempre saudáveis, e ao exercício dos vícios. Exatamente como nós na atualidade, ou em um passado recente.

O fato é que, depois de infinitos erros, inúmeras iniquidades e incontáveis inconsequências, alguém nos resgata dos porões da servidão e da prática do mal. Normalmente, tal papel socorrista cabe a algum amado conhecido, sob os auspícios dos céus. Merecedores? Não, certamente necessitados. Nos é concedido então uma moratória espiritual. Novamente, sob os auspícios da divindade. Sob um ponto de vista econômico, moratória é o alargamento do prazo de pagamento ou suspensão temporária de um débito, normalmente sem incidência de juros. É como se, ao nos vermos endividados por conta do cartão de crédito, a operadora nos atendesse ao pedido de suspensão da dívida por alguns anos, sem a incidência de juros! Certamente, um sonho para muitos...

É exatamente essa moratória que Deus nos concede quando estamos no “fundo do poço”, quando a lama das nossas dificuldades morais sufoca-nos e as nossas dificuldades tornam-se por demais acerbas, fardos mais pesados que a capacidade dos nossos ombros, Mateus 23:4. Nesse momento, o Mestre chama e nos diz: “Vinde a mim e eu vos aliviarei”, Mateus 11:28. A “moratória espiritual” nos é concedida.

Voltamos à “propriedade do Pai”, tal como o filho pródigo, e iniciamos os engajamentos no serviço do bem, ainda no plano espiritual. Cursos, estágios, aprendizados e muita mão na massa. A maior satisfação dos espíritos de luz é poder trabalhar. Infelizmente, esse ainda não é o nosso caso. Após os estudos e prática, ao concluirmos os preparativos da programação espiritual, eis que reencarnamos, é o fim da moratória. Hora de iniciarmos “pra valer” nas tarefas redentoras, reeducativas.

Chega o momento azado de mostrar “na prática” aquilo que “treinamos” durante o período de moratória nos céus. Qual é a surpresa em saber que, sob os auspícios do céu, o pagamento não se dá através da dor, e sim da prática do amor, por vezes, sofrido amor. Então, reencontramos adversários no lar para praticarmos a paciência; nos deparamos com a angústia, para aprendermos a confiar em Deus; vislumbramos necessitados de todas as matizes para a prática da caridade. Entretanto, “O espírito está pronto, mas a carne é fraca” Marcos 14:38, muito fácil praticar o bem em colônias espirituais, onde tudo conspira para o amor e o equilíbrio. Difícil tarefa é a de nos mantermos no bem quando as tentações e os convites menos inusitados nos são feitos.

Se espíritas, tomamos o conhecimento dessas verdades, assumimos as nossas dificuldades e nos colocamos a trabalhar o íntimo sob duas vertentes bastante antagônicas: Por obrigação ou por amor.

Naturalmente, o amor é o melhor dos cenários. Onde tudo flui naturalmente, o prazer, a sensibilidade, a verdadeira satisfação em atender o próximo através das diversas formas de assistência, material, moral ou espiritual. É a certeza de que o período de moratória foi válida, aceita, tirada de bons proveitos em um terreno fértil, Marcos 4:8. No entanto, existe ainda o infeliz “outro lado da moeda”. Onde a caridade se torna uma obrigação, um dever a ser cumprido à risca. Muita ação, pouco sentimento.

Então, as mais belas palavras, as mais ricas palestras soam internamente como “sino que tine”, Paulo, Coríntios 13:1. As mais consoladoras profecias e mensagens de fé sem amor ficam estéreis, se nada significam a quem as pronuncia, Paulo, Coríntios 13:2. A caridade material não nos toca as fibras do coração, não nos encantamos pela felicidade no próximo. O trabalho no amor perde o sentido. É como se seguíssemos um caminho por seguir, com um objetivo, sem uma meta. Não assumimos, mas a obrigação em trabalhar na seara se torna um estorvo à vida. Sob os auspícios celestes, eis que mais uma moratória espiritual se apresenta. Mais uma vez, por não trabalharmos o amor, o sentimento, necessitamos de mais auxílio, mais tempo, mais oportunidades.

A parte boa é que nessas idas e vindas, o amor se constrói, se fixa, e molda e se fortalece em nós. Até que, após os diversos erros, inúmeras inconsequências e algumas moratórias, nos conscientizamos do amar por amar. Revelemos em nós as virtudes, em forma de trabalho e assistência, por puro prazer. Depois de muito sofrer, a felicidade nos será companheira eterna, sob os auspícios dos céus.

 


A vida de Chico Xavier

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