Fonte: Cebatuira  - Por: Tereza Cristina D'Alessandro

A maldade nunca foi segredo para nós espíritas. Sabemos que o corpo físico, apesar de ter sua formação gerenciada pela combinação dos cromossomos dos seus genitores, tem sua configuração final largamente influenciada pelo perispírito, que por sua vez mantém registradas todas características psíquicas do indivíduo.

Esse efeito não se limita às predisposições da psique. Segundo pesquisadores atuais, como o canadense Ian Stevenson e o brasileiro Hernani Guimarães Andrade, até mesmo certos ferimentos adquiridos na existência anterior, principalmente quando auto-infligidos, mostram-se de diversas maneiras no veículo material que se forma providencialmente a serviço do encarnado, segundo seu merecimento e suas necessidades.

Os genitores do reencarnante, quando conscientes de que seu filho recém-nascido já possui numerosos séculos de experiências na terra, sabem que cabe a eles, como se fossem jardineiros, buscar podar o quanto seja possível das más tendências que possam detectar nos seus rebentos, no momento em que venham à tona, seja através da imposição de limites, enquanto lhes seja possível representar alguma autoridade, ou através do bom exemplo, que fala alto até mesmo às almas menos sensíveis.

Há um trecho de O Livro dos Espíritos que trata do tema:

"208. O Espírito dos pais não exerce influência sobre o do filho após o nascimento?

"— Exerce, e muito, pois, como já dissemos, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: o Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado.

"209. Por que pais bons e virtuosos têm filhos perversos? Ou seja, por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por simpatia, bons Espíritos como filhos?

"— Um mau Espírito pode pedir bons pais, na esperança de que seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende.

"210. Os pais poderão, pelos seus pensamentos e as suas preces aMediunidade é faculdade humana natural pela qual se estabelecem as relações entre os homens e os Espíritos; pertence ao campo da comunicação. Natural constatá-la na criança e no jovem, pois são Espíritos em experiências no mundo material, em processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral, através dos quais serão ampliadas as suas potencialidades.

Analisando o aflorar da mediunidade em diferentes ciclos do desenvolvimento humano, o professor Herculano Pires, no livro Mediunidade, esclarece que as crianças possuem a mediunidade, por assim dizer, à flor da pele, porém são resguardadas pela influência benéfica dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjo da guarda. Nessa fase infantil, as manifestações, em sua maioria são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebem inspirações de amigos espirituais, às vezes vêem e denunciam a presença de espíritos. Quando passam dos sete ou oito anos, integram-se melhor no condicionamento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações espirituais e dando mais importância às relações com os encarnados. Encerra-se o primeiro ciclo mediúnico para abrir o segundo. Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantil.

Allan Kardec, pergunta aos Espíritos na questão 221. de O Livro dos Médiuns, nos seguintes itens:

Item 6. : “Será inconveniente desenvolver a mediunidade das crianças?”.
- Certamente. E sustento que é muito perigoso. Porque estes organismos frágeis e delicados seriam muito abalados e sua imaginação infantil muito superexcitada. Assim, os pais prudentes as afastarão dessas idéias, ou pelo menos só lhes falarão a respeito no tocante às conseqüências morais.

Item 7. : “Mas há crianças que são médiuns naturais, seja de efeitos físicos, de escrita ou de visões. Haveria nesses casos o mesmo inconveniente?”
- Não. Quando a faculdade se manifesta espontânea numa criança, é que pertence à sua própria natureza e que sua constituição é adequada. Não se dá o mesmo quando a mediunidade é provocada e excitada. Observe-se que a criança que tem visões, geralmente pouco se impressiona com isso. As visões lhe parecem muito naturais, de maneira que ela lhe dá pouca atenção e quase sempre as esquece. Mais tarde a lembrança lhe volta à memória e é facilmente explicada, se ela conhecer o Espiritismo.


Item 8. : “Qual a idade em que se pode, sem inconveniente, praticar a mediunidade ?”
- Não há limite preciso na idade. Depende inteiramente do desenvolvimento físico e mais particularmente do desenvolvimento psíquico. Há crianças de doze anos que seriam menos impressionadas que algumas pessoas já formadas. Refiro-me à mediunidade em geral, pois a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo. Quanto à escrita há outro inconveniente, que é a falta de experiência da criança, no caso de querer praticá-la sozinha ou fazer dela um brinquedo.

Analisando essas explicações, entendemos que a questão da idade está subordinada tanto às condições do desenvolvimento físico, quanto às do caráter ou amadurecimento moral. No entanto, o que ressalta claramente das respostas acima é que não se deve forçar o aflorar mediúnico das crianças, e que, caso haja o aflorar espontâneo, deve-se empregá-la com grande seriedade, sendo necessário dar às crianças em geral, o ensino moral do Espiritismo, preparando-as para uma vida bem orientada pelo conhecimento doutrinário, sem qualquer excitação prematura das faculdades psíquicas que se desenvolverão no tempo devido.

É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos que se inicia o segundo ciclo. No primeiro ciclo só se deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais intensas e positivas, necessitando de esclarecimentos e condução adequados sobre a mediunidade.

As reuniões de estudo, especificamente as de Mocidade, voltadas para a integração do adolescente e jovem à Vida, quando conduzidas por evangelizadores preparados, representam importante fator de esclarecimento e desmistificação das nossas relações com os Espíritos. Há adolescentes que se integram rápida e naturalmente à nova situação e se preparam seriamente para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a mediunidade, por associá-la a inúmeras renúncias. Muitos rejeitam as diretrizes espirituais instaladas em suas consciências, criando desvios e perturbações que trarão conseqüências mais tarde.

Nesse período, o adolescente se abre para contatos mais profundos com a vida e o mundo, sendo necessário ampliar sua visão da Vida, à luz da Doutrina Espírita. Estimulá-lo a fazer escolhas adequadas, mostrando-lhe que há renúncias necessárias, principalmente as relacionadas a si mesmo. Os exemplos dos familiares influem mais em suas opções do que ensinos e exortações. Começa a tomar conta de si mesmo e a firmar sua personalidade, necessitando ser respeitado, amado e compreendido, a fim de estruturar mais facilmente, o caminho que percorrerá com destino à Perfeição.

O adolescente e o jovem, este se enquadrando no terceiro ciclo, podem e devem ser estimulados a se descobrirem como Espíritos, plenos de potencialidades a serem desenvolvidas, vivenciando diversas experiências que lhes possibilitem crescimento espiritual. Merecem orientação adequada que os preparem para trabalhar com Jesus, onde quer que estejam, aprendendo a servir, participando como agentes modificadores do meio, independente da idade cronológica, mas cientes da responsabilidade espiritual de fazer o melhor e ser feliz.

Muitos jovens creem existir incompatibilidade entre o descobrir e experimentar as belezas e alegrias naturais da vida e a vivência mediúnica; falta-lhes, por ausência de conhecimento, o entendimento de que por serem Espíritos, vivem em constante relação com outros Espíritos, encarnados e desencarnados, sendo imprescindível disciplinar essa convivência, colocando o Evangelho em seu sentir, pensar e agir.

Quanto antes a criança e o jovem receberem esclarecimentos sobre a realidade espiritual da qual fazem parte, mais prontamente se tornarão aptos a trabalhar com Jesus, o que não implica exclusão de vivências no mundo; significa estar no mundo sem ser do mundo, daí a mediunidade fundamentar-se na vida de relação, estabelecendo convivências, exigindo definição de propósitos, atitudes diferentes, possibilitando crescimento moral e espiritual, que tornarão esses Espíritos, hoje crianças ou jovens, em homens de bem, construtores do Mundo Melhor, ao qual todos aspiramos.

 


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